A Profecia
Por Osvaldo R Feres
Tiro, 990 a.C.
Eu tive um sonho esta noite, um sonho incomum, uma mensagem
enviada pelos deuses.
Me chamo Mitelik, sou sacerdote de Astarte em Tiro, no país
dos cananeus, mais conhecido como Fenícia pelos estrangeiros.
Essa noite tive um sonho incomum, a própria Astarte veio à mim, era radiante como a lua, bela como uma flor, seus olhos eram duas joias
que cintilavam, seu aroma era como o mais doce incenso e sua beleza superava as
mais lindas princesas do mundo. Astarte, a Rainha do céu, sussurrou sua
mensagem: “Nobre filho da terra, venho lhe trazer a boa nova, a semente do rei
Abibaal propagará pelo mundo nossa nação, o grande Hiram sucederá seu pai e
será o próximo rei de Tiro, diante dele o mundo se curvará, ele será maior que
as montanhas, mais forte que o touro e mais resistente que o cedro. Seu nome
será imortalizado pelas nações e terá a amizade de grandes reis.”
Quando acordei, estava deslumbrado com tal presságio, me
senti honrado por ser o mensageiro dessa grandiosa boa nova. Corri até o templo
de Astarte, lavei-me com água e ungi minha cabeça com azeite, queimei o mais
fino incenso, vindo da terra de Sabá, e ofereci à Astarte, minha grandiosa
deusa.
O jovem Hiram não estava
na cidade, estava em Catargo, negociando novas mercadorias, expandindo o reino
de seu pai. Tiro era uma grande cidade e estava crescendo a cada dia graças ao
comercio de sua famosa tintura púrpura, a cor dos reis.
Mas antes de dar a boa
nova ao rei, tive um novo presságio, olhei para o céu e as nuvens tomaram a
forma de uma montanha e um raio partiu do alto da montanha, os ventos moldaram
novamente as nuvens e vi a forma de uma árvore, era um cedro. Tomei uma mula e
segui para as montanhas, meu destino era o monte Líbano, meu coração me guiava.
O destino era longo, o caminho era árduo, mas eu sabia, sabia que os deuses
tinham uma mensagem, não para o rei, nem para o príncipe, mas para mim.
Contemplei aquelas
montanhas antigas e avistei o topo do monte, era tudo coberto por bosques de
cedros, ah, como são majestosos os cedros do Líbano.
A noite foi caindo
calmamente, enquanto eu ajuntava lenha para fazer uma pequena fogueira, me
aninhei próximo de um grande e antigo cedro, passaria a noite ali, contemplando
as estrelas, esperando a mensagem dos deuses, eu, minha mula e uma pequena
fogueira.
Adormeci abaixo daquele
grande cedro e quando a lua cheia já estava alta no céu, ouvi um som, era como
se mil estrelas caíssem do céu em um som límpido e harmonioso, e ao abrir meus
olhos vi a grande Deusa Astarte, mas ela não estava sozinha, Baal, Asherá,
Reshef, Dagon, El, Shapash, Eshmun e todos os deuses estavam com ela, seu
semblante era triste e perguntei “Porque está triste, oh minha Senhora?” e ela,
com o mais doce olhar, afagou meus cabelos e disse: “Saiba Mitelik, filho da
terra, estou triste, pois aquele que será o grande dentre todos os reis de
Tiro, irá destruir esse bosque sagrado, Hiram, o grande, irá profanar o bosque sagrado,
ele será o primeiro de uma geração.” Voltei-me para ela e disse: “Impeça-o,
Senhora” amavelmente Astarte respondeu: “Não Mitelik, nós, os deuses, não
interferimos na vida do homem sem seu consentimento, o homem constrói o seu próprio
caminho, mas devo lembra-lo, filho da terra, que os deuses são imortais,
enquanto um filho da terra souber nossos nomes, aqui estaremos! Vá e dê a boa
nova!”
Parti de volta para Tiro
naquela mesma noite, soube que um dia os deuses serão esquecidos, que os
bosques serão profanados, mas algo no meu coração diz que seus nomes nunca
serão esquecidos, pois enquanto um filho da terra chamar pelos deuses, ali
estarão eles, nos auxiliando.
Este conto foi criado por Osvaldo R Feres, direitos reservados.
Este conto foi criado por Osvaldo R Feres, direitos reservados.
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