O Guardião da Árvore da Vida

O Guardião da Árvore da Vida

Por Osvaldo R Feres

Imagem: William Blake

   Desde criança ouço histórias sobre como um herói conseguiu enganar os deuses e roubar para si o segredo da vida eterna. Sempre sonhei um dia poder conseguir tal feito, ficava dias contemplando as montanhas que se estendiam ao longe. Minha avó me contava que no principio do mundo, entre aquelas montanhas desérticas, havia um vale, cheio de vida e esplendor e no meio do vale os deuses plantaram a Árvore da Vida, para que eles próprios pudessem desfrutar da sua sombra e de seus suculentos frutos vivificantes, mas para que nenhum homem pudesse comer desses frutos, um dragão foi posto para guardar a árvore.
   Todos dizem que sou louco, mas resolvi buscar a vida eterna, pois miserável é o homem que um dia há de perecer e voltar para o pó da terra, seu túmulo. Tomei uma trouxa, peguei o necessário, pães e um cantil de água, uma vez que além das montanhas desérticas, não encontraria nada além de pedras e areia.
   Dias se passaram e nada encontrei, montanhas, montanhas e nada mais. Às vezes encontrava um córrego onde enchia meu cantil, mas não demorou muito para que o pão acabasse, assim, tive que caçar os animais das montanhas, nada mais que roedores em suas tocas.
    Pobre de mim, procuro a vida eterna e me dou de cara com a morte.
   Cada dia ficava mais difícil, as pernas fraquejavam, meu cajado já não me sustentava, meu pé tropeçava a cada passo, já não tinha mais o que comer. Cheguei a uma região inóspita, sem animais, nem riachos, apenas eu e as montanhas. Dias sem comer nem beber e meu corpo, desfalecido, adormeceu, sem minha vontade, sem que eu permitisse, dormi.
   Quando acordei, vi que a luz do sol saía dentre as nuvens e dava atrás de um morro, era um sinal!        Arrastei-me, comi o pó do chão, meus olhos lagrimejavam, e então contemplei, logo após o morro de pedras, o vale dos deuses.
   Deslumbrante era pouco para aquilo que meus olhos contemplavam, no centro do vale havia a maior e mais linda árvore do mundo. Seus galhos tomavam todo o vale, e a luz do sol passava por entre suas folhas, chegando brandamente em um jardim de árvores e flores que se estendiam ao seu redor. Nas raízes da árvore brotava uma nascente que cascateava e dava em um lago de águas claras.
    Eu encontrei!
   Mas logo fui tomado por uma dor no coração... será que o dragão era real? Recobrei minhas forças, era necessário estar preparado para o pior, peguei meu cajado e desci as montanhas, em direção à Árvore da Vida.
   Atravessei uma densa floresta, cheia de cores e sons, era maravilhoso! Colhi algumas frutas que nunca antes tinha visto, ao sentir seu sabor meu corpo todo se arrepiou de felicidade. Os pássaros tinham múltiplas cores e cantavam lindamente, os animais me espreitavam por entre os galhos das árvores, pareciam sorrir.
    Logo cheguei aos pés da grande Árvore, e qual não foi minha surpresa ao encontrar uma mulher banhando-se na fonte.
   - Quem é você? – Disse eu.
   - Me chamo Vida. – Respondeu a moça, como se já soubesse quem sou e de onde vim.
   - Onde está o dragão que guarda a Árvore da Vida?
   - Não vejo nenhum dragão.
   - Então és tu que guardas a Árvore?
   - Sou aquela que concede a vida a tudo e a todos. Sou sua mãe, sua irmã e sua esposa. Estou aqui desde o principio... antes dos homens, antes dos animais, antes das árvores, antes dos deuses.
   Dizendo essas palavras ela estendeu os braços a mim, e me entreguei em seu abraço com lágrimas nos olhos. Ela cuidou de mim, curou minhas feridas, afagou meus cabelos e me alimentou de seu seio.
   A noite caiu. As estrelas estavam resplandecentes, a luz da lua envolvia o vale com uma névoa mística e então adormeci.
   No meio da noite acordei de sobressalto e ao meu lado estava um dragão, enorme, de suas narinas saiam fumaça, seu corpo era coberto por escamas douradas e sua cabeça repleta de chifres. Por instinto disse:
   - Quem é você?
   - Me chamo Morte. – Respondeu o dragão.
   - Afasta-te de mim. – O ameacei com meu cajado.
   O dragão ria de minha pequenez.
   Ela mentiu, disse que não havia dragão. Estava confuso e com medo.
  Corri sem olhar para trás, corri, corri pela floresta, subi a encosta ofegante e olhei para trás, para contemplar pela última vez aquele vale maravilhoso, banhado pela luz da lua. Segui meu caminho pelas montanhas desérticas, até adormecer novamente.
  Quando acordei, tudo o que tinha vivido parecia um sonho, um sonho enevoado, ninguém acreditaria em mim... mas uma coisa é certa, quando  me deparei com o dragão vi em seus olhos, os olhos meigos da jovem donzela.
   Pobre do homem mortal que em sua covardia, nunca entenderá os mistérios dos deuses imortais.

Este conto foi criado por Osvaldo R Feres, direitos reservados. 

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